Narrador: os escravos que iriam partir junto com a comitiva, já estavam de prontidão junto à casa grande; a espera do seu Madruga.
Seu Madruga apareceu junto ao alpendre, e todos aguardavam o seu sinal. Para darem inicio a grande jornada até Vila Rica.
Ao seu comando a comitiva partiu...
Dona Barbara então se dirige a cozinha para falar com Perequê.
Dona Barbara: - Filho, você perdeu a comitiva do seu pai.
Perequê: -Perdi não mãe. Eu vi lá da janela do meu quarto.
Dona Barbara:- Acalme-se. Tome seu café devagar. Afinal, está com tanta pressa pra ir onde?
Perequê: Só vou me divertir juntamente com o Açu.
Narrador: Dona Bárbara percebeu que duas de suas escravas, estavam cochichando no final da cozinha e quis saber do que se tratava.
Dona Barbara: O que vocês tanto cochicham aí no canto?
Escrava: Acabei de saber de uma notícia horrível que aconteceu em uma das fazendas das redondezas.
Dona Barbara: Que notícia horrível é essa?
Escrava:- A senhora conhece a proprietária da fazenda Itaoca?
Dona Barbara:-Claro que sim! Embora, Madruga diga sempre, que ouve relatos por aí, durante as suas viagens, que ela é muito cruel com seus empregados.
Escrava: -É a mais pura verdade.
Dona Barbara:-Tá! Mais o que foi que ela fez de tão assombroso?
-Santo Deus! Conte logo criatura!
Escrava: Tá bom! Tá bom! Eu falo.
Narrador : E assim começou a falar a escrava:
Escrava: Dona Joaquina tinha um caso com um dos seus escravos de companhia. Certo dia, pegou o escravo Alaor de chamego com a sua cozinheira, que pegou uma faca afiada e cortou um pedaço da língua da escrava que chorava de tanta dor. E depois fez o pobre do escravo comer.
Dona Barbara:- Isso deve ser só conversa de escravos fujões.
Narrador: Perequê ficou por ali meio acabrunhado . Coçou a cabeça e disse:
Perequê:- Não sei porque, mais acho que tem algo de errado nesta história?
Mãeee, vou sair pra chamar o Açu pra gente caçar ou pescar.
Narrador: Enquanto isso, a comitiva do Seu Madruga, ia marchando de sol a sol.
Com o adiantar das horas, a tropa começa a mostrar o cansaço. E se faz necessário, uma pausa, para que todos possam descansar.
Eles acenderam uma fogueira...Prepararam a comida da tropa.
Logo depois do almoço, todos tiraram uma sesta de 30 minutos e voltaram a seguir viagem.
Enquanto isso, na fazenda... Perequê após ter terminado a sua lição, sai correndo todo apressado para encontrar o seu grande amigo.
Ao sair, logo encontra Açu, sentado ao pé da escada, que já o esperava.
Açu: -Puxa! Hoje você demorou mais do que os outros dias.
O que faremos hoje?
Perequê: Estava pensando em ir pescar de novo. O que você acha?
Açu: É pode ser.
Narrador: Os dois meninos se dirigem para a senzala para buscar os anzóis e o enxadão para que possam catar as minhocas no terreiro. Minhocas graúdas começaram a aparecer. Os meninos trataram de pegar somente as maiores. E ao se prepararem para deixar o local, avistam Alceu, um escravo que havia sido comprado recentemente.
Narrador : Alceu contava a lenda do “Pão quente”.
E assim ele falava:
Escravo:” Havia uma fazenda muito poderosa na região, que possuía um feitor implacável.O feitor carregava na cintura, um chicote de couro e nas pontas, pedacinhos de chumbo presos. Juvenal fazia deste chicote a sua marca registrada. Não havia escravo desta fazenda que não tivesse medo deste perverso feitor.”
- Bem, que os escravos desta fazenda deveriam se rebelar contra este maldito feitor. Não acha Perequê?
Perequê: Não acho que o feitor deveria ser tão ruim.
Escravo: E vocês ainda não ouviram a pior das crueldades.
Açu: - E ainda tem mais?
Escravo:Assim que eu terminar de contar vocês me digam se é ou não é pior.
Narrador :E voltou a contar:
Escravo:” Essa fazenda era próspera e produzia muita farinha de mandioca, muito café e aguardentes. Que depois eram vendidos aos comerciantes de toda a região, e também enviados para abastecer algumas cidades das Minas Gerais. “por causa da grande demanda de encomendas, os escravos trabalhavam sem parar. O carregado de fazer os pães era o escravo Sebastião e o ajudante Tibério. O feitor havia dado ordens expressas, que para que nenhum escravo da fazenda pudesse comer os pães frescos. Caso algu7m escravo teimasse e fosse pego comendo algum dos pães frescos, seriam severamente castigados. Juvenal, mão de ferro!Ficava sempre a espreita, vigiando os escravos como um cão sarnento. Certa manhã, ao entrar sorrateiramente na cozinha, o feitor surpreendeu o escravo Tibério, comendo um pão que tinha acabado de sair do forno.O feitor mão de ferro não quis saber de conversa.Desta forma, o escravo Tibério, com as mãos amarradas foi colocado dentro do forno. O pobre coitado pulava de tão quente que estava o forno.”
Perequê:- Virgem santíssima! Ninguém para acudir o Tibério?
Escravo: “O escravo Sebastião , implorava chorando e pedindo ao feitor, para que não cometesse tal crueldade. Mas Juvenal não estava para brincadeira.
Perequê:-Que homem mais perverso.
Escravo: Tibério não agüentou mais e sucumbiu com a pele toda esturricada. Restou ao velho e amigo Sebastião tirar o corpo assado do amigo e enterrá-lo aos prantos. “
Perequê: Isso que é crueldade.
Açu: Perequê, Perequê!
Perequê:O que foi Açu. Ficamos aqui parados ouvindo esta história e esquecemos de ir pescar.
Narrador:Eles passaram o restante da tarde pescando e voltaram para a senzala com o cesto cheio.
Enquanto isso, a comitiva do Senhor Madruga, seguia serra a cima.
Seu Madruga: Apertem os passos pessoal, não queremos que a noite caia, e que estejamos no meio da estrada. Pois o perigo acaba sendo maior.
Narrador :Depois de muitos dias, e de toda a mercadoria vendida, seu Madruga, retorna a fazenda.
Perequê:Benção, papai?
Seu Madruga:Deus te abençoe, filho.
E aí Bárbara. Tudo bem aqui na fazenda?
Dona Barbara:Sim, Madruga.
Seu Madruga: A viagem foi muito cansativa, mas alcancei o meu objetivo que Ra de vender toda a nossa mercadoria.
Vou descansar o resto do dia, mas amanhã bem cedo voltamos a rotina de sempre. Durante a viagem, fiz contatos com outros comerciantes e acabei por obter novos pedidos de aguardentes e farinha. Daqui a dois meses, voltaremos com outra comitiva, para entregarmos os pedidos.
Dona Barbara: Que bom que tudo ocorreu bem. A reza da escrava Inácia é realmente poderosa.
Ainda bem que temos a benzedeira Inácia, em nossa fazenda. Assim sempre teremos a proteção da sua sabedoria.
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